quarta-feira, 16 de maio de 2012

CAPÍTULO XXIII – MORAL ESTRANHA

JESUS Mt 10:37

“O que ama o pai ou a mãe, mais do que a mim, não é digno de mim; e o que ama o filho ou a filha, mais do que a mim, não é digno de mim.”

KARDEC

Certas palavras, aliás muito raras, constrastam de maneira tão estranha com a linguagem do Cristo, que instintivamente repelimos o seu sentido literal, e a sublimidade de sua doutrina nada sofre com isso. Escritas depois de sua morte, desde que nenhum evangelho foi escrito durante a sua vida, podemos supor que, nesses casos, o fundo do seu pensamento não foi bem traduzido, ou ainda, o que não é menos provável, que o sentido primitivo tenha sofrido alguma alteração, ao passas de uma língua para outra.

JESUS Mt 19:29

“E todo o que deixar, por amor de meu nome, a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá cento por um, e possuirá a vida eterna.”

KARDEC

Sem discutir as palavras, devemos procurar compreender o pensamento, que era evidentemente este: os interesses da vida futura estão acima de todos os interesses e todas as considerações de ordem humana, porque isto concorda com a essência da doutrina de Jesus, enquanto a idéia do abandono da família seria sua negação. A finalidade dessas expressões é mostrar, por uma figura, uma hipérbole, quanto é imperioso o dever de cuidar da vida futura.

JESUS Lu 9:59-60

“E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que vá primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus.”

KARDEC

A vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida normal do espírito. Sua existência terrena é passageira, uma espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual. Era isso que aquele homem não podia compreender por si mesmo. Jesus lhe ensinou, dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensais antes no espírito; ide pregar o Reino de Deus.

JESUS Mt 10:34-36

“Não julgueis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos.”

KARDEC

Não há blasfêmia nem contradição nessas palavras, porque foi ele mesmo quem as pronunciou, e elas atestam a sua elevada sabedoria. Tomadas ao pé da letra, elas tenderiam a transformar sua missão, inteiramente pacífica, numa missão de turbulências e discórdias, conseqüência absurda, que o bom senso rejeita, pois Jesus não podia contradizer-se. Jesus vinha proclamar uma doutrina que minava pelas bases a situação de abusos em que viviam os Fariseus, os Escribas e os Sacerdotes do seu tempo. Por isso o fizeram morrer, julgando matar a idéia com a morte do homem. Os adeptos da nova doutrina, infelizmente, não se entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre, na maioria veladas por alegorias e expressões figuradas. Os cristãos vencedores do paganismo, passaram de perseguidos a perseguidores. Seria a culpa da doutrina do Cristo? A responsabilidade, portanto, não é da doutrina de Jesus, mas daqueles que a interpretaram falsamente, transformando-a num instrumento a serviço de suas paixões. Daqueles que ignoraram estas palavras: O Meu Reino não é deste mundo.

O AUTOR

Este capítulo retrata alguns pontos contraditórios aparentemente, ou estranhos quanto ao entendimento, das palavras de Jesus. Uma análise sensata nos fz deduzir que houve algum erro na interpretação das palavras do Mestre pelos Apóstolos, ou então alguma falha quando ocorreram as traduções. Bastaria uma única palavra com significado duplo para haver um equívoco.
Aí está a excelência do Evangelho, que através da razão e da fé, comecemos a enxergar os ensinamentos de Jesus com os olhos do Espírito.
Assim transforma-se o texto, brilham as páginas, e nos transportamos para o cenário histórico onde ouvimos do próprio Mestre as palavras verdadeiras, e estas renovam nosso coração.
Então, não importam mais os detalhes, expressões e pontuações.
Apenas Jesus, e sua doutrina de amor e caridade.

FATOS E HISTÓRIAS

Devido às dificuldades reinantes no século III d.C., grandes divergências dogmáticas agitaram o mundo cristão e provocaram sanguinolentas perturbações, até que o imperador Teodósio conferiu a supremacia ao papado, impondo a opinião do bispo de Roma à cristandade.
A fim de por termo a essas divergências de opinião, no momento em que vários concílios discutiam acerca da natureza de Jesus, uns admitindo e outros rejeitando sua divindade, o Papa Dâmaso confia a São Jerônimo, no ano 384, a missão de redigir uma tradução latina do Antigo e do Novo Testamento. Essa tradução passaria ser a única reputada ortodoxa e aceita pela Igreja.
São Jerônimo sentiu o peso da responsabilidade, escrevendo ao papa sobre suas preocupações acerca da tradução. Eis o seu desabafo:

"Da velha obra me obrigais a fazer obra nova. Quereis que, de alguma sorte, me coloque como árbitro entre os exemplares das Escrituras que estão dispersos por todo o mundo e, como diferem entre si, que eu distinga os que estão de acordo com o verdadeiro texto grego. É um piedoso trabalho, mas é também um perigoso arrojo, da parte de quem deve ser por todos julgado, julgar ele mesmo os outros, querer mudar a língua de um velho e conduzir à infância o mundo já envelhecido."

"Qual de fato, o sábio e mesmo o ignorante que, desde que tiver nas mãos um exemplar novo, depois de o haver percorrido apenas uma vez, vendo que se acha em desacordo com o que está habituado a ler, não se ponha imediatamente a clamar que eu sou um sacrílego, um falsário, porque terei tido a audácia de acrescentar, substituir, corrigir alguma coisa nos antigos livros ?"

"Um duplo motivo me consola desta acusação. O primeiro é que vós, que sois o soberanos pontífice, me ordenais que o faça; o segundo é que a verdade não poderia existir em coisas que divergem, mesmo quanto tivessem elas por si a aprovação dos maus."

Santo Agostinho, bispo de Hipona, escreve a São Jerônimo no ano 395, demonstrando sua preocupação com relação à sua tradução e testificando a inexistência de exatidão nas traduções bíblicas. Vejamos sua carta:
"A meu ver, eu preferiria que tu antes nos interpretasse as Escrituras gregas canônicas que são atribuídas aos setenta intérpretes, pois se há dissonância entre o latim das antigas versões e o grego da Setenta, pode-se ir verificar, mas se há dissonância entre o latim da nova versão e o texto conhecido do público, como dar a prova da sua exatidão ?"

Obra Consultada: "Analisando as Traduções Bíblicas", de autoria de Severino Celestino da Silva - Editora Idéia .
http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Educacao/M_BibliaTraducoes.htm

COMENTÁRIO FINAL

FOTO OU ILUSTRAÇÃO

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito da maneira como você organizou a palestra, como resumiu.Parabéns pelo seu trabalho.

Postar um comentário